segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Neoliberalismo chegando com força!

ENERGIA

Privatização da Eletrobras tende a comprometer 7500 empregos em seis empresas

Concessionárias de energia de seis estados do Norte e Nordeste devem ser as primeiras a vivenciar o processo

Brasil de Fato | Brasília (DF) , 
Eletrobras lidera sistema de empresas de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia pelo país / Marcelo Casal Jr./Agência Brasil
A Medida Provisória (MP) 735/2016, aprovada pelo Senado na última quarta-feira (19), vem preocupando funcionários de empresas do setor elétrico. O dispositivo, que altera regras do segmento, facilita processos de privatização, diminui a burocracia em leilões, reduz custos da União com subsídios a concessionárias e ainda permite a desestatização de distribuidoras estaduais que foram federalizadas, abrindo caminho para a privatização da Eletrobras. 
A companhia lidera um sistema de empresas de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia pelo país, incluindo empresas como Chesf, Eletronorte e Furnas, por exemplo. 
Segundo projetam as articulações governistas, as concessionárias de energia de seis estados das regiões Norte e Nordeste (Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Alagoas e Piauí) devem ser as primeiras a vivenciar o processo de desestatização, o que tende a comprometer um total de 7.500 empregos, segundo dados da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), que congrega sindicatos do setor. 

Articulações

Durante as discussões no Senado foram feitas algumas alterações na MP, uma delas proposta pela senadora Vanessa Grazziotion (PCdoB-AM), no intuito de preservar todos os empregos dos funcionários. No entanto, o relator da medida, Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), acatou apenas parcialmente a proposta e, após acordos com o governo, o texto incluiu a manutenção de 70% do quadro durante os três primeiros anos de privatização.
Com isso, os funcionários enfrentam um clima de receio e insegurança em relação ao trabalho. “Está muito ruim pra gente. Há um clima de preocupação, tensão e tristeza, porque já temos conhecimento do que acontece quando uma empresa é privatizada”, diz Francisco Marques, da direção do Sindicato dos Urbanitários do Piauí (Sintepi), que representa os funcionários da companhia no estado.
Somente no Piauí, por exemplo, a Companhia Energética do Estado (Cepisa) tem 1.600 funcionários concursados.“Nós tínhamos uma projeção de aumentar esse contingente pra 2.500 até 2017, por conta de um acordo firmado entre o MPF [Ministério Público Federal] e a empresa, porque a recomendação era a companhia substituir todos os terceirizados que hoje desenvolvem atividade-fim, mas agora tudo isso fica comprometido também”, lamenta Marques, acrescentando que há cerca de 1.200 terceirizados nessa situação.
Ele destaca ainda o contexto do Maranhão e do Ceará, onde as concessionárias da Eletrobras foram privatizadas em anos anteriores e o quadro de terceirizados cresceu exponencialmente. “Atualmente, o perfil dos empregados é de 85% de terceirizados na Coelce e 90% na Cemar. É claro que os funcionários da Eletrobras se preocupam com essa nova estrutura de trabalho”, completa o dirigente.
A servidora Zenaide Lustosa, que atua na Cepisa há 31 anos, disse que se sente temerosa com a iminência da privatização. “Esse tipo de especulação sempre esteve presente na vida dos trabalhadores da empresa, mas claro que houve um impacto grande agora, porque se criou um clima maior de insegurança. É pior ainda para as pessoas que têm mais tempo na empresa, como eu, que estou dentro do público que deve ser mais atingido. (…) Tenho uma amiga que está até com depressão por causa disso”, conta.   

Precarização e custo do serviço        

Um dos aspectos levantados pelos opositores da medida provisória é o risco de precarização dos serviços de energia após a privatização da Eletrobras. “Estudos feitos pelo Dieese e pela própria Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que nenhuma das empresas que foram privatizadas melhorou a qualidade de prestação do serviço. Além disso, o custo chegou a subir 300% em algumas companhias, se compararmos com as tarifas das empresas públicas”, destaca o sindicalista Francisco Marques.
Ele também aponta a diferença entre os dois segmentos no que se refere às metas colocadas para o serviço. “Existem metas que são determinadas pela Aneel e elas têm sido bem flexíveis pro setor privado, que dificilmente sofre punição por não cumpri-las. Ao contrário, as públicas são bastante penalizadas por não atenderem essas metas, geralmente rigorosas. Então, é claro que o consumidor perde muito com isso”, aponta.  
O Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) também demonstra preocupação com o que se anuncia no horizonte da MP. “A gente já sabe que todo processo de privatização aumenta a exploração dos trabalhadores do sistema de energia do Brasil e dos consumidores, principalmente as famílias, que vão ter uma elevação nas tarifas. Com isso, aumenta a exploração dos atingidos por barragens, porque essas empresas vão querer ter mais lucro a qualquer custo, violando ainda mais os direitos”, projeta Luiz Dalla Costa, da coordenação nacional do Movimento.
A senadora Vanessa Grazziotin destaca a preocupação com o estado do Amazonas, do qual tem a representatividade. Com 1,5 milhão de quilômetros quadrados e mais da metade da população vivendo na capital, há grandes diferenças de lucro entre Manaus e os demais municípios.
“São 2 milhões de habitantes somente na capital. É o maior parque eletroeletrônico da América do Sul, então, obviamente que é um mercado lucrativo, interessante. (…) O problema é que, dentro dessa lógica do lucro, quem vai se preocupar em abastecer municípios como Tapauá, por exemplo? Porque, se a empresa é pública, às vezes você mantém um município pequeno a partir do lucro que vem dos grandes. O poder público faz isso porque o objetivo da empresa não é o lucro, e sim prestar um bom serviço e reverter o lucro no social. A empresa privada vai ter um outro olhar, claro. Então, essa medida é um desastre”, considera a senadora.

Trâmite

Após a aprovação e as alterações feitas pelo Senado, a MP 735 foi transformada no Projeto de Lei de Conversão (PLV) 29/2016 e segue agora para sanção presidencial.
Edição: Camila Rodrigues da Silva

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Lá vem a mudança de rumo!

EDUCAÇÃO

Senado forma comissão para avaliar MP do ensino médio

Oposição reforçou críticas à proposta e pediu que MP seja analisada por todos os atores do sistema educacional

Brasil de Fato | Brasília (DF), 
Deputado Izalci (PSDB-DF) e senador Pedro Chaves (PSC-MS), respectivamente, presidente e relator da comissão que vai analisar a MP do ensino médio / Mídia Ninja
Foi constituída na tarde desta quarta-feira (19) a comissão mista encarregada de analisar a Medida Provisória 746/2016, que institui a reforma do ensino médio. Editada pelo Planalto no último dia 22, a proposta tem sido alvo de fortes críticas de parlamentares da oposição e segmentos da educação, que se queixam especialmente da falta de participação da comunidade escolar na elaboração da matéria.
O colegiado será presidido pelo deputado Izalci (PSDB-DF), segundo o qual a comissão deve se reunir na quarta-feira da semana que vem para, em caso de quórum, elaborar o plano de trabalho e aprovar requerimentos de pauta. São os requerimentos que apontam, por exemplo, para a lista das pessoas que serão convocadas para participar dos debates.
“Não vamos ficar apenas na forma, e sim no conteúdo. Precisamos aprovar essa mudança, que é urgente e relevante”, disse o tucano durante a sessão, sem fazer avaliações detalhadas da medida.
O relator escolhido foi o senador Pedro Chaves (PSC-MS), que disse que pretende ouvir diversos atores envolvidos na discussão. “Os indicadores do ensino médio atualmente são péssimos, o modelo está obsoleto, então, é necessário que haja uma reavaliação. (…) Estou totalmente desarmado, preciso da contribuição de todos, independentemente da sigla partidária. Vamos também ouvir todos os segmentos da sociedade, principalmente professores e alunos, que são os mais interessados”,disse em plenário.

Controvérsias

A polêmica que circunda a medida resultou, até agora, no recebimento de 567 emendas (sugestões de alteração). Além disso, a MP é alvo de questionamentos no Supremo Tribunal Federal (STF) por parte de parlamentares da oposição, que criticam especialmente a forma como as modificações no ensino estão sendo propostas.
“A primeira questão que nos move é a crítica sobre essa decisão de fazer uma reforma educacional por medida provisória. (…) Educação se faz também sabendo ouvir, e precisamos destacar que a reforma vai afetar ainda o ensino fundamental e o próprio caminho rumo à universidade. Então, todos deveriam ser ouvidos. (…) Da forma como está colocada, essa é uma proposta retrógrada diante dos interesses do país”, avaliou a deputada Maria do Rosário (PT-RS). 
“Essa reforma é autoritária, até porque a Câmara já vem debatendo o tema há quatro anos por conta de um projeto de lei que trata do assunto, e isso foi desprezado pelo governo. (…) É claro que precisamos de uma reforma. Isso é quase consenso, porque o modelo atual de ensino cumpriu o seu papel no passado, mas hoje não responde mais às demandas da própria juventude. No entanto, quando tratamos do tema da educação, a melhor forma de debater é com amplo diálogo”, disse o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), tecendo críticas ao Planalto por não ter ouvido segmentos dos professores e estudantes nem o Conselho Nacional de Educação.
A senadora Fátima Bezerra (PT-RN) se disse preocupada com o tempo-limite de apreciação da proposta, que, por se tratar de uma medida provisória, terá 120 dias para análise. Na avaliação dela, a curta temporada de discussão tende a impedir um debate mais democrático e plural.
“Lamento profundamente que o governo trate um tema dessa complexidade via MP. Nós sabemos que toda MP tem caráter impositivo e já nasce com força de lei, com apenas 120 dias pra gente decidir. E esse é um assunto muito sério, que mexe com milhares de estudantes em todo o Brasil e ainda afeta municípios e estados”, destacou a senadora.
Já a base do governo se defendeu das críticas afirmando que a implantação da reforma seria urgente. “Infelizmente, já faz mais de uma década que se debate aqui a revisão do ensino médio. O governo anterior teve 13 anos para fazer isso e não fez. Por conta disso, ela teve que ser transformada numa medida urgente”, sustentou o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG).
O deputado Alex Canziani (PTB-PR) corroborou a defesa do tucano. “O governo tomou a decisão certa, porque não podemos mais esperar por essa reforma”, disse.

Contradição com a PEC 241

Durante a sessão do colegiado, Reginaldo Lopes destacou a relação da MP 746 com a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, que propõe um teto para os gastos públicos e está sendo debatida no Congresso.
“A PEC, na prática, propõe cortes na educação, e essa reforma requer ainda mais verbas, porque nós temos um regime de 800 horas de aula e teríamos que chegar progressivamente a 1.200 horas, já que eles querem implementar o regime integral nas escolas. Então, é óbvio que precisaríamos de mais investimentos, mas a PEC vai justamente no sentido contrário. O que eles estão fazendo é demagogia com a sociedade brasileira”, criticou o petista.

Rede de educação

Professores e diversos atores com atuação ligada à educação têm estado frequentemente na Câmara e no Senado para demarcar oposição à MP 746. Após a sessão desta quarta (19) no Senado, o coordenador do Fórum Nacional de Educação, Heleno Araújo, classificou a proposta do governo como “uma medida falsa”.
“Ela vem com o argumento de que vai ajudar o ensino médio a melhorar o seu rendimento, mas isso não é verdade. Entre outras coisas, ela atropela a Constituição Federal, que diz que todo jovem com idade entre 15 e 17 anos tem que estar matriculado no ensino médio, e a medida não se propõe a resolver isso. Temos atualmente 1,7 milhão de jovens fora da escola, e eles vão continuar nessa situação. Então, essa proposta é pura enganação”, criticou o dirigente.
Edição: Camila Rodrigues da Silva

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Desvio de recursos de merenda escolar